Às vezes penso que os meus braços conseguem abraçar o mundo
todo. Sinto-o quando abraço cinco crianças ao mesmo tempo e não consigo
respirar, sinto quando me cantam uma canção inventada na hora em que a letra só
diz “gosto muito de ti, bia”, e senti esta Quarta-feira com a partilha de um
lanche.
Já há algum tempo que partilhava o meu lanche com uma das
meninas acompanhadas pelo projecto. Ontem, depois do turbilhão que foi a sessão
com todos a quererem falar ao mesmo tempo e a pedir a minha atenção, sentei-me
exausta na cadeira e, ao contrário da pergunta habitual “Bia, tens bolachas?”,
olhou para mim com os seus olhos pequeninos cheios de piedade e perguntou: “queres
metade da minha sandes?” Eu aceitei a metade que me coube daquela sandes que vinha tão bem
embrulhada num guardanapo, e aquele pão ,que já estava duro depois de um dia inteiro esquecido
dentro da mochila, conseguiu fazer com que ficasse novamente bem-disposta.
A sandes foi dividida cuidadosamente em duas metades e, sentadas no degrau da porta, selamos a nossa amizade com a partilha de
uma sandes de queijo.Em silêncio, mais do que a sandes, saboreei eu a beleza desse momento.
Boa noite*