19/11/13

criatividade

Sempre que me é possível, gosto de fazer exercícios de escrita criativa com as crianças que acompanho. Hoje, aproveitando a vontade que as levou até à janela, pedi que me escrevessem aquilo que viam da janela da sala de aula.

Uma delas escreveu assim:
"As meninas são caganitas.
Gosto de ver os rapazes nus
Têm uma salsicha
E as raparigas um buraco"

Todos concordaram que foi a mais criativa!


03/11/13

Outubro- registo dos papás

Outubro é o meu mês. Foi o mês em que nasci e o mês em que todos os anos celebro a vida e a felicidade! Foi também neste mês que a vida da minha mãe tornou-se mais colorida, claro! :)
O meu nascimento e a minha vida até mais ou menos um ano de idade ficou registada num diário que a minha excelentíssima mamã teve a ideia de escrever. Segundo uma nota do meu pai, que encontrei nesse diário, "neste preciso momento, entrei no quarto e vejo a mamã a dormir com este livrinho na mão esquerda e a esferógráfica na mão direita.Não resisti e deitei os olhos para o seu conteúdo. Confesso que a mamã tem muito jeito para elaborar crónicas, mas esta é a mais especial. Tu, a nossa Beatriz. É tudo, desculpa a minha intromissão".

Durante algum tempo, lembro-me de pedir à mãezinha que me contasse repetidas vezes a história do meu nascimento,antes de me ir deitar. Quem é que não gosta de ouvir a história na qual é a protagonista?
Entretanto o diário perdeu-se e só  há algum tempo atrás (já com 21 anos) voltei a encontrá-lo no nosso sótão e a deliciar-me com as páginas e páginas "que eu escrevi". Confesso que ainda hoje gosto muito de o ler!

Como Outubro é o meu mês fica aqui o registo do dia em que vim ao mundo:

15 de Outubro de 1991
" (...) aqui fica um vácuo,um buraco escuro porque não há ninguém para contar a minha vinda ao mundo exterior.Só sabemos que o pediatra
diz que  eu tive um nascimento lindo e pelo lado do obstreta que correu tudo bem. O despertar da consciência ocorreu no corredor,
a mamã tremia de frio e de dores . Devo confessar que também de medo que as coisas não tivessem corrido bem, só que daí a instantes vieram
dizer que eu tinha nascido perfeita e linda e que já tinha ido para o berçário (...) Também o meu paizinho foi ao hospital
e ficou surpreso com o que o aguardava:a minha presença (...)a reacção dele  foi contar os dedinhos da minhas mãos e dos meus pés. Depois de analisar-me toda, dançou comigo"





Será por isso que gosto tanto de dançar?  :)
Obrigada mãe por esta ideia*
com amor,
Beatriz

02/11/13

A minha avó (parte I )

Era a nossa rotina. O chá preto vinha a fumegar para a mesa e era impressionante a maneira como ela o bebia sem se queimar (quase sempre). Eu alternava entre outros chás (que não me tirassem o sono) ou um copo de leite com chocolate, dependendo da fome. Se era um dia "especial", aqueles em que alguém estava doente, ou às vezes só porque sim, havia bolinhos de chuva, bolinhos que carinhosamente apelidei de "bolinhos de ressuscitar mortos".
Sabíamos que aquele era o nosso momento, íamos tirando as torradas da taça, barrando com manteiga e falando sobre tudo. Muitas vezes, ficávamos sentadas à mesa durante horas. Eu falava sobre a minha escola e ela sobre os assuntos mais interessantes do programa da manhã,ou outros que lia nas revistas.Às vezes, ríamos de tudo e de nada, ríamos por nos estarmos a rir até ficarmos as duas com dores de barriga, ou a tia Luísa chegar e fazer um ar de reprovação.
Não dávamos pelo tempo passar, nem sabíamos a conta de quantas torradas já tínhamos comido e frequentemente até comíamos coisas que "a Cristininha não podia saber" (a minha prima médica) o pacto já havia sido silenciosamente estabelecido há muito tempo e eu não o quebrava.
Depois ela ia ver a sua novela, sentava-se no cadeirão individual e eu fazia-lhe companhia estirada no sofá grande. Eramos peritas em "ver a novela de olhos fechados" e íamos percebendo mais ou menos a história das vezes que uma ou outra ia abrindo os olhos.
Às vezes, quando não havia acordo sobre aquilo que queríamos ver, eu ficava deitada na cama dela, que era a cama mais quentinha e mais bem-feita onde alguma vez estive, era reconfortante e um sono no "forninho" ,como lhe chamávamos,curava qualquer mal.
O mais engraçado, para mim, era a maneira como eu sabia que ela estava a chegar, pelo o som do arrastar da perna pelo corredor, e fingia que estava a dormir, só para ter o prazer de ser acordada com um doce beijo na testa, com cocegas, ou com umas palmadas carinhosas,dependendo do dia.
A minha avó Odete foi avó de muita gente,porque toda a gente queria ser sua neta e todos iam parar a casa da avó onde brincávamos sem restrições sempre sobre o aviso de  "não a enervar  para não subir os diabetes!" (frase que ouvi vezes sem conta)..
A minha avó Odete rodeou-se de crianças durante toda a sua vida, e ,talvez por isso, foi ela própria a maior criança que alguma vez conheci. E esta talvez tenha sido uma das maiores lições que me deixou.

com amor,
Beatriz*