29/12/15

Estes dias

 





Natal significa regresso a casa; comida da mãe; barulho e confusão; a tia Anita que chega sempre tarde por causa da Leonor; adormecer na missa do galo; o pipoca que parte as bolas da árvore; a prenda que se perdeu; as sobremesas que foram demais; o amigo secreto que falhou; almoçar às cinco da tarde; dormir sentada no sofá; abraços, lágrimas e risos; decorações da mãe; quentinho e sol e barrigadas de amor :)

Fotos por: Rui Camacho



Há anos que a tradição mantem-se.
Vésperas de Natal, todos numa correria lá fora à procura de prendas, e eu dentro da biblioteca a tentar salvar o semestre.
Presumo que quando não tiver nada para estudar nesta época festiva, irei sentir um vazio e o Natal nunca mais será o mesmo :p





16/12/15

Segunda Feira de chuva

Gosto quando chove.
Gosto porque o meu corpo aquieta-se no conforto de uma biblioteca que deixa ver a chuva cair. Porque quando chove, a Beatriz que quer ver o Mundo lá fora, sossega e entrega-se às linhas que tem para escrever.
A chuva traz-me a quietude tão necessária a uma alma que quer tudo de uma vez.

13/12/15

A Susana faz anos hoje

A Susana é uma daquelas pessoas que faz com esta cidade emprestada seja menos "emprestada" e mais um "sítio casa". A Susana é quem me põe os pés na terra quando quase já estou a tocar nas nuvens. Que me agarra quando estou mesmo quase a cair. Que me põe o batom e faz o repartido ao lado e diz: "vai" , empurrando-me para fora da minha zona de conforto.
A Susana é um furacão que passa e deixa rasto, que impõe e que repõe a ordem dos meus sentimentos quando a casa onde eles moram está muito desarrumada.
Eu e a Susana temos sempre uma "história," uma sempre pior do que a outra.
Dançamos sempre como se ninguém nos estivesse a ver, rimos como se ninguém nos estivesse a ver, (eu choro) como se ninguém nos estivesse ver e cantamos (ela bem e eu mais desafinada) como se ninguém nos tivesse a ver.
Abrimos a pista e rimos à gargalhada, descemos as ruas da Mouraria abraçadas e ela canta o fado, e eu oiço, a ela e ao Nicola, que no seu português "italianado" também já vai cantando a Bia da Mouraria.

Sei que és do Mundo, mas espero ter-te sempre por perto.~

com amor da tua,
Bea da Mouraria


06/12/15

Há dias sem sol dentro


Há dias em que os sonhos parecem distantes.
Dias em que as nuvens no caminho não deixam antever o sol.
Dias em que abanamos a ver se tudo volta ao sítio certo.
Dias que duvidamos de todos e de tudo.
Dias em que fico pelas metades quando queria ser inteira.
Dias em que tudo era suposto, mas nada feito.
Dias em que os post-its na parede me relembram o ser que tenho medo de esquecer, que me inquieta ao pensar que poderá ter ficado algures no caminho
Dias em que pomos um pé a seguir ao outro, devagarinho, na esperança de que o fim chegue depressa.

15/11/15

As vozes da noite de Lisboa

Ontem fui ao Imigrarte. Todo o mundo que cabe em Lisboa marcou presença no Ateneu, devolvendo-lhe, por dois dias, a vida que tanto reclama.
Cheguei cedo e aconcheguei-me numa sala pequenina para ver um documentário delicioso sobre os italianos que vivem em Lisboa, a sala transbordava. O ambiente, informal como uma sala de estar lá de casa, acolhia as gargalhadas que foram soando.
Dancei samba, comi cachupa e, cada vez mais, sou do mundo.
Quando tudo bastava para mim e a sala estava demasiado apertada para um corpo que se quer libertar, saí  e percorri a rua até ao Dona Maria.
Ali, debaixo do "Je suis Paris" estavam eles a devolver a humanidade que falta ao mundo,  voluntários e voluntárias para quem as saídas de sábado à noite, significa percorrer as ruas, faça frio ou faça sol, para estar com os amigos que esperam por eles.
Caí num abraço de saudade e de gratidão por ainda os encontrar ali, lembrei-me quando os vi chegar, e da sua primeira saída e agradeci cá para dentro a persistência de quem há anos tira os cacos dos pés e das almas daqueles que andam descalços pela rua.
Obrigada a vocês que tornam o sítio onde vivo, num lugar melhor, que sabem o nome das pessoas que vivem nas nossas ruas. Obrigada por continuarem a fazê-lo e por não desistirem. Obrigada à vox. O mundo precisa de mais pessoas como vocês.

da vossa sempre,
Bea

Se quiserem ficar a saber mais sobre esta associação visitem o site em www.voxlisboa.pt



05/11/15

É tão bom chegar ao sítio onde nos esperam

Depois de uma festa de Halloween, um voo cancelado devido ao mau tempo e uma noite dormida num hotel (quase ao lado de casa), sabe tão bem chegar ao sítio onde nos esperam. Aqui há sol e chuva, há calor e frio, há conversas trocadas, gargalhadas que fazem chorar e muito muito amor.
E há espaço para festejar o meu aniversário com um atraso de 15 dias :)





20/10/15

Carta a Luaty

Luaty,
desde o primeiro momento que soube da tua situação, estou solidária contigo e com os teus colegas. Neste momento, estás a despertar o mundo para uma situação que todos sabiam, mas ninguém"sentia",como aquela foto do menino morto nos braços do pai despertou consciências.Infelizmente são precisas atitudes trágicas para nos tirar do conforto do dia-a-dia.
Senti logo uma revolta enorme e uma vontade de agir. Mas como? O que fazer?
Tenho faltado às aulas para participar nas vigílias que têm organizado.
Na primeira, senti-me estranha, não sabia bem porque estava ali, qual era o resultado que esperávamos... Havia poucas pessoas, o ambiente estava pesado. Fui sozinha porque não consegui mobilizar ninguém e lá não encontrei nenhuma cara conhecida.
Limitei-me a permanecer em silêncio,desejando que a minha presença ali pudesse fazer alguma diferença enquanto a noite fria me gelava o rosto e o coração.
Convocaram mais uma vigília,e mais uma vez estive presente. Saí a correr do trabalho e, qual não foi o meu espanto, quando encontrei meia praça cheia de vozes que apelavam à liberdade e aí o meu coração encheu-se de esperança. Fiquei até ao fim e acendi duas velas nas quais depositei toda a minha esperança.
Dois dias depois passei no Rossio e as velas ainda ardiam,os cartazes continuavam lá e, enquanto assim o é,a tua história não é esquecida. Sentei-me,sentindo a necessidade de olhar por vocês. Enquanto ali estive,foram tantas as pessoas que me vieram perguntar o que se passava, eu expliquei pacientemente a cada uma delas, despertando mais e mais consciências, senti, por momentos, que desta vez, estava mesmo a fazer a diferença. Decidi ficar por ali, olhava para as fotos e para as velas e não sabia bem a quem pedir, a quem orar, nesta minha vigília solitária,mas falei com o coração e pedia em silêncio para que vos libertassem rapidamente e para que recuperasses as forças.
Estou contigo nesta luta, e por isso escrevo-te para te dizer que somos cada vez mais, que tu e os teus colegas não estão sós. Que Portugal está desperto para o que se passa em Angola,digo eu,hoje,mais do que nunca.
Escrevo-te também para te agradecer por me inspirares e por mudares o pedacinho de mundo que está a tua volta.

Melhora rápido,
Beatriz Camacho



18/10/15

Dias de aniversário


Este ano, decidi embalar-me pelos dias e deixei as expectativas e balanços feitos em noites de vigílias nas vésperas de aniversários, para outras noites de anseios e receios.
Este ano saboreei os momentos, agarrei as pessoas, sem antes nem depois, sem caminhos a traçar,apenas o "aqui" e o "agora". Vivi a manhã com surpresa, as tarde com doses gigantescas de amor pequenino e a noite embalou-me no conforto familiar. Uma barriga cheia de amor!
Foi um aniversário pouco material, mas cheio de humanidade, cheio de abraços daqueles que me rodeiam. Foram três dias de festejos comigo a correr de um lado para outro para conseguir estar com todos aqueles que me queriam abraçar. Foi ano de parar e agradecer à vida.
Dizem que crescemos quando passamos o primeiro aniversário sem os pais, se assim o é cá estou eu pronto para os desafios dos 24. Que venham eles!



15/08/15

Pelas danças do Andanças

"Aceita o convite para dançar, escuta a história do andanças sussurada entre passos, rodopia em sorrisos marcados e entra na magia de um ritmo partilhado. Na mudança de direção guia e deixa-te guiar, canta a beleza do lugar e partilha as músicas no sonho da próxima dança"

Dancei de manhã à noite. Sozinha, a pares, com montes de pessoas. Devagar e rápido. Mais contida e completamente descontraída.
 Rodei o mundo todo numa dança. Troquei de pares. Cada par um sorriso.
 Respirei os compassos e fintei os tempos da música. Em bicos de pés, descalça, aos saltos.

Porque a dança permite a partilha, permite respeitar o outro, guiar ou deixar ser guiada. Deixei-me ser levada, embalada pela música. E depois de tanto rodopiar, afasto-me e contemplo a dança. Não há nada mais bonito que ver dançar, porque só a paragem permite o amor. O amor de quem leva a vida a dançar, de dois corpos que seguem o mesmo ritmo na dança que é a vida.



















Mais um regresso

Já muito escrevi sobre os meus regressos a casa. Mas ainda que assim seja, sinto que fica sempre algo por dizer, mais uma palavra para acrescentar.
Cada regresso é diferente, ainda que igual no seu ritual. Sei lá eu todos os motivos que me fizeram correr para casa: para esquecer um coração, para encontrar conforto num abraço, para chegar ao fundo antes de começar a subir, para parar o tempo, para repensar os próximo passos.
A verdade é que, cada vez mais, o regresso tem para mim um efeito estranho, uma espécie de anestesia.
 A casa apresenta-se como um museu da minha infância, as fotografias nas molduras espalhadas por toda a parte, mostram uma menina pequena de caracóis que já não (re)conheço. O quarto e as histórias da Anita que continuam pela mesma ordem desde a última vez que lhes toquei, têm o mesmo cheiro, apesar das sucessivas alterações da mãe de forma a torná-lo mais moderno, fingindo assim que o tempo por ele passou.
Os sons, o barulho, todos a quererem falar uns por cima dos outros, a repetirem vezes sem conta a mesma coisa - cenas típicas da minha família que se vão desenrolando diante de mim como um filme em que eu sou mera espectadora.
Voltar a casa é esbarrar de frente com o quanto crescemos, com tudo aquilo que não somos. É como se tentássemos vestir a todo o custo as roupas que já não nos servem.É visitar os sítios e lugares onde a nossa infância ficou.
Voltar a casa é ter tempo para inquietações metafísicas e perceber em que parte do caminho ficaram os sonhos.
Voltar a casa é como regressar à Terra do Nunca num corpo e alma de adulta que não quer crescer.






12/08/15

Que jovens (espertos) somos!

" Que esperta que sou: com a minha contestação, dou o exemplo e demonstro como a sociedade portuguesa não está morta. Sei que a proliferação dos diplomas universitários fez com que muitos se tivessem desvalorizado, por isso estive na primeira linha da minha faculdade a exigir mais e melhor.
Que esperta que sou: claro que vivo dependente dos meus pais e tenho a sorte de eles me ajudarem quando podem. Queriam que eu vivesse do call center ou do biscate do supermercado? Mas não sou parva, por isso adio ir viver com o meu namorado: só planeio com ele um fim de semana sem grandes gastos, em casa de amigos e sem os olhares dos eternos padrinhos da "geração rasca", designação que afinal tanto nos uniu.
Que esperta que sou: sei que não há liberdade num trabalho tão precário e tenho a convicção de que o estudo, só por si, nunca me trará independência. Mas sou esperta porque sou autónoma: conto aos meus pais o que acho importante partilhar, não aceito à partida todos os temas que os professores me trazem (...)
Que esperta que sou: claro que fiz Erasmus. Conheci outros temas e outras gentes sobretudo outras maneiras de pensar. Estive num país onde os políticos não se insultavam e o debate democrático se generalizava na família e na escola. Não fiquei pela 4ª classe, como os meus avós, nem pelo 9º ano, como os meus pais. E sei que o Bruno, que fazia tanta porcaria na escola onde andámos e, talvez por isso, deixou de estudar no 8º ano, jamais terá as mesmas hipóteses do que eu: no momento em que a crise abrandar, os meus desafios serão bem mais interessantes do que os dele.
Que esperta que sou, por isso não me resigno: como posso aceitar uma sociedade que critica os mais novos, como se fôssemos sempre os ignorantes de serviço? Que compara a nossa ida para o estrangeiro com a emigração dos anos sessenta, era em que milhares de portugueses não qualificados fugiam de Portugal (e de Salazar) para maus empregos em França? (...).
Que esperta que eu sou : por isso vou lutar pela valorização do mérito e do esforço e pelo fim das influências e das pressões. Sei bem que a voz dos mais novos, depois da escuta activa  dos mais experientes, é essencial para tudo melhorar. Não esqueço que há muito a mudar também em nós, mas nunca nos gabámos da perfeição: sei que precisamos de estar mais atentos ao outro ao nosso lado, pensar menos no prazer imediato e tentar ver um pouco mais a prazo. Ler e estudar mais, como nos dizem os mais velhos que vale a pena ouvir. No meu trabalho actual, mal remunerado e precário como o dos meus amigos, vou fazer ouvir a minha voz, única forma de me sentir melhor comigo mesma e de aumentar a possibilidade de repararem em mim (...).
Que esperta que eu sou, por isso vou melhorar sem me calar: irei denunciar sempre a arrogância de quem critica os jovens sem ter ganho um minuto a falar com eles".

Daniel Sampaio, Da Família, Da Escola, E Umas Quantas Coisas Mais

A todos os jovens que ainda produzem ideias, constroem sonhos e  com esses sonhos transformam a sociedade,
A todos os que criam os seus projectos porque não têm medo de pensar e questionar e não estão totalmente formatados pela sociedade onde vivem,
A todos os que saem do lugar comum,

Obrigada!



13/06/15

Lisboa, só tu sabes ser Junho


A que sabe o último dia de aulas?

À  medida que as últimas semanas se foram aproximando, vocês ganharam energia extra ( não sei onde a foram buscar) que junto com o cansaço dos últimos kilometros de estrada fez uma mistura tão estranha (e explosiva) que já não vos consigo perceber.
Vocês adivinham a chegada do Verão com gritos e correrias de quem já não quer saber . Eu bem falo com vocês e conto o tempo da música da dança final, mas vocês já não me ouvem. Até vos invejo esse vosso ar de descontracção perante a desgraça que se avizinha da vossa apresentação. 
Que bem que sabe o último dia de aulas, os aplausos e as despedidas. A descontracção de uma escola que recebe em si todos os que fazem parte dela para festejar mais um ano.
Vocês que brilharam e enfrentaram os vossos medos perante os olhares expectantes dos vossos progenitores, são os meus principais professores.
Há tanta sabedoria em saber viver o momento e tenho tanto a aprender com vocês, mas Ontem aprendi mais uma lição e fomos todos andar de triciclo.
Bem nos vamos ter de aturar uns aos outros durante as vossas férias, mas sem o peso da rotina, Adivinham-se dias melhores.






03/06/15

De volta ao país das Maravilhas

Voltei ao País das Maravilhas.
E com tanta coisa que tenho por fazer,com o final do ano lectivo, os exames, as festas e tudo mais, as coisas complicam-se. "Não é que eu goste de complicar as coisas, elas é que gostam de ser complicadas comigo." (in:Alice no País das Maravilhas)..
E não é que ache que tenha jeito algum para o teatro (mas este ano as artes de espectáculo parece que andam a chamar por mim) mas lá vou eu, passar o meu pouco tempo livre que me resta a tomar chá com o chapeleiro maluco e com a Alice (ao menos é sempre divertido).

Feliz Desaniversário para todos e todas :)




02/06/15

Reta final

A reta final é um quase que não é "já". É um querer e não poder. É uma constante luta para que o meu intelecto se concentre no mundo que está cá dentro, em vez de passear pelo mundo que passa por mim lá fora.
O 2º semestre é sempre terrível para mim, Lisboa nasce linda a cada dia e pisca-me o olho e eu apenas posso olhá-la pela janela.
Mas este "quase" vale a pena. Porque quando este "quase" acaba o "agora" sabe mil vezes melhor :)
Lisboa espera por mim! Está quase :)










01/06/15

Hoje

Hoje levaram-me ao cansaço.
 Hoje era o vosso dia e fizeram questão de o mostrar. Fizeram questão de vive-lo e aproveitá-lo até ao último minuto (como o fazem sempre quando se encostam à grade e recusam-se a ir para casa).
E mostraram-me como se faz. Eu como criança que sou e criança que fui acompanhei-vos, corri atrás e pintamo-nos, enchemo-nos de chocolate e dançamos neste nosso dia. Sinto que,como vocês, vou adormecer com a cabeça em cima da mesa na hora da sopa.
Mas mesmo cansada o meu coração vem cheio para casa porque de cada vez que me abraçam tenho esperança no Mundo:)