Cidade Emprestada: março 2013

31/03/13

25/03/13

Permanecer...

Já passou algum tempo... foi numa noite de Março. Mais uma daquelas noites em que cheguei atrasada e, silenciosamente, "roubei" um bolo da caixa que estava em cima da cadeira. Sentei-me lá atrás para ninguém dar por mim e disparei meia dúzia de fotos, sobe o olhar reprovador de algumas pessoas, porque para mim "recordar é viver". E depois, lá fui de colete reflector e cheia de energia ver como é que estava tudo pela igreja de Arroios.
A fila para a distribuição de comida é cada vez maior, a espera desespera, mas como dizem "quem espera sempre alcança"...(confesso que a fila ainda me faz confusão).

Penso em Eugénio de Andrade e na urgência de destruir certas palavras "ódio, solidão, crueldade" e senti que pelo menos naquela noite a palavra solidão podia ser riscada da lista.

A carrinha passa e tudo se altera. Vão embora os outros, ficam os que querem matar outras fomes e sedes de conversa e companhia. Aqueles cujo os olhos brilham por nos receberem em sua casa. Então, como por magia, o ambiente muda, torna-se menos pesado, mais alegre e para mim mais colorido. De repente, estou numa sala de estar sentada num confortável sofá com os pés em cima da mesa. Mais uma vez, as sábias palavras passam por mim "é urgente inventar a alegria, multiplicar os beijos, as searas(..)" e sim, ali tudo se multiplica os risos que surgem quando começo a conversa com duas senhoras que vão comentando a actualidade, um abraço que perdoa, as conversas com o patrão "dono" do adro da igreja e da sua "mobília" que traz às costas , a ligação que existe quando se descobre que viemos da mesma ilha. É como se estivesse numa casa sem tecto e sem paredes,os sons são familiares e as gargalhadas amigáveis, até não faltam os conselhos de quem me quer bem, de quem me diz "Estás muito magrinha" e me dá uma receita de um "peixinho cozido" que me faz muita falta.

A caminho de casa há algo que fica "é urgente o amor, é urgente permanecer". Permanecer, penso eu,algo de que muita gente se esquece, mas estes voluntários não, porque vão permanecer dia após dia na vida destas pessoas, vão estar presentes e criar laços...criar laços, isto também ficou esquecido.

Saída com o projecto Um sem abrigo um amigo-Associação Conversa Amiga