São linhas simples e descomprometidas que narram as minhas descobertas diárias na cidade que me viu chegar de armas e bagagens. Sentimentos, caras, conversas, olhares, descobertas, tudo o que passa por mim e me faz parar algum tempo, que me faz ficar imóvel enquanto tudo se move ao ritmo estonteante da cidade "Happiness is only real when shared." (Christopher McCandless)
31/12/13
24/12/13
Feliz Natal!
Ainda o mês de Novembro ia a meio, e já algumas das crianças que acompanho elaboravam cuidadosamente a sua carta com os desejos para este Natal. De entre todas as cartas que tive a portunidade de ler, estas duas fizeram-me parar e reflectir.
Aqui ficam:
"Querido Pai Natal,
Estou a escrever-te esta carta para pedir-te que a minha mãe melhore e que fale com Jesus para cuidar bem da minha irmã que está perto dele e também do meu gato Chicinho. Também quero pedir-te que a minha mãe chegue mais calma a casa porque ela tem chegado muito nervosa. Queria também pedir-te para que eu fique sempre na lista dos mais bem-educados na escola."
G. 10 anos
"Querido Jesus,
Estou muito triste porque a minha professora de matemática está grávida e o bebé está em risco de vida. Eu peço-te que faças um milagre e ponhas a minha professora e o bebé a salvo.
Agora vamos falar de um outro assunto: o meu pai precisa de um bom trabalho onde ganha mais dinheiro. E também queria pedir-te que acabe a crise."
S. 10 anos
Fiquei surpreendida por não encontrar nenhuma referência a algum brinquedo ou algo mais material, mas feliz pela inocência dos pedidos, pelo amor e humanidade presentes nestas cartas. Desejei fortemente que, de alguma forma, os seus desejos fossem realizados.
Espero que neste Natal sejamos todos mais humanos.
Feliz Natal!
Beatriz
05/12/13
Hoje é o dia internacional do voluntariado. Para quem me conhece sabe que é uma data que
me diz muito e que não podia deixar passar em branco.
Já há muito tempo que
faço voluntariado e posso dizer que devo à minha ação como voluntária grande
parte daquilo que sou hoje. Grande parte dos dias, estive apenas sentada a ouvir
histórias, a dar um pouco de atenção, a devolver um pouco de dignidade àqueles que tão pouco têm. Na maior parte desses dias, deixei muito de mim, nas ruas e bairros de Lisboa. Mas ainda que tivesse deixado tudo o que tinha a dar, fui tão cheia para casa.
Olho para o voluntariado como um caminho. Um caminho que fui traçando e que me fez evoluir,
crescer. Primeiro, sob orientação daqueles que muito me ensinaram e, mais tarde, tornando-me também eu numa "orientadora" para alguns voluntários que fizeram equipa comigo.
Mas acima de tudo, o voluntariado, muito através das realidades que fui testemunhando e das histórias que me confiaram, tornou-me um ser mais consciente e ativo,fez-me adotar uma outra atitude perante a vida, não só nos dias de voluntariado, mas no meu
dia-a-dia. Fez-me talvez sentir mais Humana, mais atenta às pessoas que por mim passavam. E ,consciente de que a
minha atenção, ou “uma conversa amiga”,era um grande “poder”, comecei por tornar o dia de algumas pessoas mais feliz.Tornei-me num "agente de mudança".
Esta é, na minha opinião, uma das melhores formas de exercer política. Como disse
Marjorie Moore, “O Voluntariado é o exercício máximo de
Democracia. Tu votas nas eleições uma vez em anos, mas quando te voluntarias,
votas todos os dias sobre o tipo de comunidade em que queres viver.” Eu estou
lá, e escolho todos os dias , através da minha ação, o tipo de Mundo onde quero
viver. Não importa se o impacto da minha ação irá atingir uma pessoa, ou cem, o
mais importante, para mim, é que eu e os meus voluntários adotemos uma postura
de mudança nas nossas acções diárias.
Tenho a sorte de estar num associação que
me deu espaço para crescer e desenvolver as minhas próprias ideias. Uma
associação que, com poucos recursos, me obrigou a ser criativa e a fazer a
mudança com pouco. Uma associação onde percorremos longos caminhos a pé, muitas vezes sob chuva, para chegarmos àqueles que estão à nossa espera e que anseiam pela nossa visita.
Mas no final do dia, o que conta é o sentimento de serenidade e
paz que sentimos por termos sido a diferença no dia de alguém, ainda que só tenha ficado sentada a ouvir atentamente o que tinham guardado para partilhar comigo, a ouvir as histórias que nos torna a todos mais Humanos.
com amor,
Beatriz
(texto escrito meia a dormir, meia acordada)
(texto escrito meia a dormir, meia acordada)
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