São linhas simples e descomprometidas que narram as minhas descobertas diárias na cidade que me viu chegar de armas e bagagens. Sentimentos, caras, conversas, olhares, descobertas, tudo o que passa por mim e me faz parar algum tempo, que me faz ficar imóvel enquanto tudo se move ao ritmo estonteante da cidade "Happiness is only real when shared." (Christopher McCandless)
31/12/13
24/12/13
Feliz Natal!
Ainda o mês de Novembro ia a meio, e já algumas das crianças que acompanho elaboravam cuidadosamente a sua carta com os desejos para este Natal. De entre todas as cartas que tive a portunidade de ler, estas duas fizeram-me parar e reflectir.
Aqui ficam:
"Querido Pai Natal,
Estou a escrever-te esta carta para pedir-te que a minha mãe melhore e que fale com Jesus para cuidar bem da minha irmã que está perto dele e também do meu gato Chicinho. Também quero pedir-te que a minha mãe chegue mais calma a casa porque ela tem chegado muito nervosa. Queria também pedir-te para que eu fique sempre na lista dos mais bem-educados na escola."
G. 10 anos
"Querido Jesus,
Estou muito triste porque a minha professora de matemática está grávida e o bebé está em risco de vida. Eu peço-te que faças um milagre e ponhas a minha professora e o bebé a salvo.
Agora vamos falar de um outro assunto: o meu pai precisa de um bom trabalho onde ganha mais dinheiro. E também queria pedir-te que acabe a crise."
S. 10 anos
Fiquei surpreendida por não encontrar nenhuma referência a algum brinquedo ou algo mais material, mas feliz pela inocência dos pedidos, pelo amor e humanidade presentes nestas cartas. Desejei fortemente que, de alguma forma, os seus desejos fossem realizados.
Espero que neste Natal sejamos todos mais humanos.
Feliz Natal!
Beatriz
05/12/13
Hoje é o dia internacional do voluntariado. Para quem me conhece sabe que é uma data que
me diz muito e que não podia deixar passar em branco.
Já há muito tempo que
faço voluntariado e posso dizer que devo à minha ação como voluntária grande
parte daquilo que sou hoje. Grande parte dos dias, estive apenas sentada a ouvir
histórias, a dar um pouco de atenção, a devolver um pouco de dignidade àqueles que tão pouco têm. Na maior parte desses dias, deixei muito de mim, nas ruas e bairros de Lisboa. Mas ainda que tivesse deixado tudo o que tinha a dar, fui tão cheia para casa.
Olho para o voluntariado como um caminho. Um caminho que fui traçando e que me fez evoluir,
crescer. Primeiro, sob orientação daqueles que muito me ensinaram e, mais tarde, tornando-me também eu numa "orientadora" para alguns voluntários que fizeram equipa comigo.
Mas acima de tudo, o voluntariado, muito através das realidades que fui testemunhando e das histórias que me confiaram, tornou-me um ser mais consciente e ativo,fez-me adotar uma outra atitude perante a vida, não só nos dias de voluntariado, mas no meu
dia-a-dia. Fez-me talvez sentir mais Humana, mais atenta às pessoas que por mim passavam. E ,consciente de que a
minha atenção, ou “uma conversa amiga”,era um grande “poder”, comecei por tornar o dia de algumas pessoas mais feliz.Tornei-me num "agente de mudança".
Esta é, na minha opinião, uma das melhores formas de exercer política. Como disse
Marjorie Moore, “O Voluntariado é o exercício máximo de
Democracia. Tu votas nas eleições uma vez em anos, mas quando te voluntarias,
votas todos os dias sobre o tipo de comunidade em que queres viver.” Eu estou
lá, e escolho todos os dias , através da minha ação, o tipo de Mundo onde quero
viver. Não importa se o impacto da minha ação irá atingir uma pessoa, ou cem, o
mais importante, para mim, é que eu e os meus voluntários adotemos uma postura
de mudança nas nossas acções diárias.
Tenho a sorte de estar num associação que
me deu espaço para crescer e desenvolver as minhas próprias ideias. Uma
associação que, com poucos recursos, me obrigou a ser criativa e a fazer a
mudança com pouco. Uma associação onde percorremos longos caminhos a pé, muitas vezes sob chuva, para chegarmos àqueles que estão à nossa espera e que anseiam pela nossa visita.
Mas no final do dia, o que conta é o sentimento de serenidade e
paz que sentimos por termos sido a diferença no dia de alguém, ainda que só tenha ficado sentada a ouvir atentamente o que tinham guardado para partilhar comigo, a ouvir as histórias que nos torna a todos mais Humanos.
com amor,
Beatriz
(texto escrito meia a dormir, meia acordada)
(texto escrito meia a dormir, meia acordada)
22/11/13
19/11/13
criatividade
Sempre que me é possível, gosto de fazer exercícios de escrita criativa com as crianças que acompanho. Hoje, aproveitando a vontade que as levou até à janela, pedi que me escrevessem aquilo que viam da janela da sala de aula.
Uma delas escreveu assim:
"As meninas são caganitas.
Gosto de ver os rapazes nus
Têm uma salsicha
E as raparigas um buraco"
Todos concordaram que foi a mais criativa!
Uma delas escreveu assim:
"As meninas são caganitas.
Gosto de ver os rapazes nus
Têm uma salsicha
E as raparigas um buraco"
Todos concordaram que foi a mais criativa!
03/11/13
Outubro- registo dos papás
Outubro é o meu mês. Foi o mês em que nasci e o mês em que todos os anos celebro a vida e a felicidade! Foi também neste mês que a vida da minha mãe tornou-se mais colorida, claro! :)
O meu nascimento e a minha vida até mais ou menos um ano de idade ficou registada num diário que a minha excelentíssima mamã teve a ideia de escrever. Segundo uma nota do meu pai, que encontrei nesse diário, "neste preciso momento, entrei no quarto e vejo a mamã a dormir com este livrinho na mão esquerda e a esferógráfica na mão direita.Não resisti e deitei os olhos para o seu conteúdo. Confesso que a mamã tem muito jeito para elaborar crónicas, mas esta é a mais especial. Tu, a nossa Beatriz. É tudo, desculpa a minha intromissão".
Durante algum tempo, lembro-me de pedir à mãezinha que me contasse repetidas vezes a história do meu nascimento,antes de me ir deitar. Quem é que não gosta de ouvir a história na qual é a protagonista?
Entretanto o diário perdeu-se e só há algum tempo atrás (já com 21 anos) voltei a encontrá-lo no nosso sótão e a deliciar-me com as páginas e páginas "que eu escrevi". Confesso que ainda hoje gosto muito de o ler!
Como Outubro é o meu mês fica aqui o registo do dia em que vim ao mundo:
15 de Outubro de 1991
" (...) aqui fica um vácuo,um buraco escuro porque não há ninguém para contar a minha vinda ao mundo exterior.Só sabemos que o pediatra
diz que eu tive um nascimento lindo e pelo lado do obstreta que correu tudo bem. O despertar da consciência ocorreu no corredor,
a mamã tremia de frio e de dores . Devo confessar que também de medo que as coisas não tivessem corrido bem, só que daí a instantes vieram
dizer que eu tinha nascido perfeita e linda e que já tinha ido para o berçário (...) Também o meu paizinho foi ao hospital
e ficou surpreso com o que o aguardava:a minha presença (...)a reacção dele foi contar os dedinhos da minhas mãos e dos meus pés. Depois de analisar-me toda, dançou comigo"
Será por isso que gosto tanto de dançar? :)
Obrigada mãe por esta ideia*
com amor,
Beatriz
O meu nascimento e a minha vida até mais ou menos um ano de idade ficou registada num diário que a minha excelentíssima mamã teve a ideia de escrever. Segundo uma nota do meu pai, que encontrei nesse diário, "neste preciso momento, entrei no quarto e vejo a mamã a dormir com este livrinho na mão esquerda e a esferógráfica na mão direita.Não resisti e deitei os olhos para o seu conteúdo. Confesso que a mamã tem muito jeito para elaborar crónicas, mas esta é a mais especial. Tu, a nossa Beatriz. É tudo, desculpa a minha intromissão".
Durante algum tempo, lembro-me de pedir à mãezinha que me contasse repetidas vezes a história do meu nascimento,antes de me ir deitar. Quem é que não gosta de ouvir a história na qual é a protagonista?
Entretanto o diário perdeu-se e só há algum tempo atrás (já com 21 anos) voltei a encontrá-lo no nosso sótão e a deliciar-me com as páginas e páginas "que eu escrevi". Confesso que ainda hoje gosto muito de o ler!
Como Outubro é o meu mês fica aqui o registo do dia em que vim ao mundo:
15 de Outubro de 1991
" (...) aqui fica um vácuo,um buraco escuro porque não há ninguém para contar a minha vinda ao mundo exterior.Só sabemos que o pediatra
diz que eu tive um nascimento lindo e pelo lado do obstreta que correu tudo bem. O despertar da consciência ocorreu no corredor,
a mamã tremia de frio e de dores . Devo confessar que também de medo que as coisas não tivessem corrido bem, só que daí a instantes vieram
dizer que eu tinha nascido perfeita e linda e que já tinha ido para o berçário (...) Também o meu paizinho foi ao hospital
e ficou surpreso com o que o aguardava:a minha presença (...)a reacção dele foi contar os dedinhos da minhas mãos e dos meus pés. Depois de analisar-me toda, dançou comigo"
Será por isso que gosto tanto de dançar? :)
Obrigada mãe por esta ideia*
com amor,
Beatriz
02/11/13
A minha avó (parte I )
Era a nossa rotina. O chá preto vinha a fumegar para a mesa e era impressionante a maneira como ela o bebia sem se queimar (quase sempre). Eu alternava entre outros chás (que não me tirassem o sono) ou um copo de leite com chocolate, dependendo da fome. Se era um dia "especial", aqueles em que alguém estava doente, ou às vezes só porque sim, havia bolinhos de chuva, bolinhos que carinhosamente apelidei de "bolinhos de ressuscitar mortos".
Sabíamos que aquele era o nosso momento, íamos tirando as torradas da taça, barrando com manteiga e falando sobre tudo. Muitas vezes, ficávamos sentadas à mesa durante horas. Eu falava sobre a minha escola e ela sobre os assuntos mais interessantes do programa da manhã,ou outros que lia nas revistas.Às vezes, ríamos de tudo e de nada, ríamos por nos estarmos a rir até ficarmos as duas com dores de barriga, ou a tia Luísa chegar e fazer um ar de reprovação.
Não dávamos pelo tempo passar, nem sabíamos a conta de quantas torradas já tínhamos comido e frequentemente até comíamos coisas que "a Cristininha não podia saber" (a minha prima médica) o pacto já havia sido silenciosamente estabelecido há muito tempo e eu não o quebrava.
Depois ela ia ver a sua novela, sentava-se no cadeirão individual e eu fazia-lhe companhia estirada no sofá grande. Eramos peritas em "ver a novela de olhos fechados" e íamos percebendo mais ou menos a história das vezes que uma ou outra ia abrindo os olhos.
Às vezes, quando não havia acordo sobre aquilo que queríamos ver, eu ficava deitada na cama dela, que era a cama mais quentinha e mais bem-feita onde alguma vez estive, era reconfortante e um sono no "forninho" ,como lhe chamávamos,curava qualquer mal.
O mais engraçado, para mim, era a maneira como eu sabia que ela estava a chegar, pelo o som do arrastar da perna pelo corredor, e fingia que estava a dormir, só para ter o prazer de ser acordada com um doce beijo na testa, com cocegas, ou com umas palmadas carinhosas,dependendo do dia.
A minha avó Odete foi avó de muita gente,porque toda a gente queria ser sua neta e todos iam parar a casa da avó onde brincávamos sem restrições sempre sobre o aviso de "não a enervar para não subir os diabetes!" (frase que ouvi vezes sem conta)..
A minha avó Odete rodeou-se de crianças durante toda a sua vida, e ,talvez por isso, foi ela própria a maior criança que alguma vez conheci. E esta talvez tenha sido uma das maiores lições que me deixou.
com amor,
Beatriz*
Sabíamos que aquele era o nosso momento, íamos tirando as torradas da taça, barrando com manteiga e falando sobre tudo. Muitas vezes, ficávamos sentadas à mesa durante horas. Eu falava sobre a minha escola e ela sobre os assuntos mais interessantes do programa da manhã,ou outros que lia nas revistas.Às vezes, ríamos de tudo e de nada, ríamos por nos estarmos a rir até ficarmos as duas com dores de barriga, ou a tia Luísa chegar e fazer um ar de reprovação.
Não dávamos pelo tempo passar, nem sabíamos a conta de quantas torradas já tínhamos comido e frequentemente até comíamos coisas que "a Cristininha não podia saber" (a minha prima médica) o pacto já havia sido silenciosamente estabelecido há muito tempo e eu não o quebrava.
Depois ela ia ver a sua novela, sentava-se no cadeirão individual e eu fazia-lhe companhia estirada no sofá grande. Eramos peritas em "ver a novela de olhos fechados" e íamos percebendo mais ou menos a história das vezes que uma ou outra ia abrindo os olhos.
Às vezes, quando não havia acordo sobre aquilo que queríamos ver, eu ficava deitada na cama dela, que era a cama mais quentinha e mais bem-feita onde alguma vez estive, era reconfortante e um sono no "forninho" ,como lhe chamávamos,curava qualquer mal.
O mais engraçado, para mim, era a maneira como eu sabia que ela estava a chegar, pelo o som do arrastar da perna pelo corredor, e fingia que estava a dormir, só para ter o prazer de ser acordada com um doce beijo na testa, com cocegas, ou com umas palmadas carinhosas,dependendo do dia.
A minha avó Odete foi avó de muita gente,porque toda a gente queria ser sua neta e todos iam parar a casa da avó onde brincávamos sem restrições sempre sobre o aviso de "não a enervar para não subir os diabetes!" (frase que ouvi vezes sem conta)..
A minha avó Odete rodeou-se de crianças durante toda a sua vida, e ,talvez por isso, foi ela própria a maior criança que alguma vez conheci. E esta talvez tenha sido uma das maiores lições que me deixou.
com amor,
Beatriz*
22/10/13
Setembro
Setembro passou por mim e eu nem dei por ele. Passou e varreu
uma Lisboa solitária soube o sol de Agosto, transformando-a numa outra agitada
e cheia de desafios.
Chegou com um desprendimento que me lançou para um mês em
cheio, deixando para trás quem não quis entrar em força, arrastando comigo
todos aqueles que acabaram de chegar.
Dancei no meio de
desconhecidos no centro de Alfama e rumei sozinha ao “Todos” que me levou, por meio
de sonoridades, ao sonho distante da Índia.
Setembro que trouxe de volta os amigos que estão longe em
longos telefonemas e cartas sem fim. Penso neles e no quanto são importantes
para mim e como cada um, à sua maneira, tem o seu significado especial na minha
vida. Desejo tê-los sempre por perto, porque mesmo que estejam espalhados pelo mundo,consigo senti-los aqui.
Setembro de um Domingo de concertos sentada num sofá no
meio de um claustro de um convento abandonado na Graça. Embalada pela música, expresso a felicidade própria de quem, ao som dos Queen, vai dizendo,
devagarinho, adeus ao Verão.
“It´s a
Kind of Magic”
21/08/13
A felicidade mora aqui!
A felicidade de viver num T3 antigo numa zona histórica de Lisboa.A felicidade de partilhá-la com dois rapazes e um cão.
A felicidade de me sentir segura e acolhida numa casa longe de casa.Numa casa cheia de música, energia, guitarras e jambés. Numa casa de fotografias e bicicletas onde ainda existe abraços de grupo.
A felicidade de ir ver o por-do-sol num miradouro a 2 minutos de casa :)
A felicidade de ter um quarto onde posso dançar e um corredor para fazer piruettes*
A felicidade mora aqui*
A felicidade de me sentir segura e acolhida numa casa longe de casa.Numa casa cheia de música, energia, guitarras e jambés. Numa casa de fotografias e bicicletas onde ainda existe abraços de grupo.
A felicidade de ir ver o por-do-sol num miradouro a 2 minutos de casa :)
A felicidade de ter um quarto onde posso dançar e um corredor para fazer piruettes*
A felicidade mora aqui*
25/07/13
A que sabe o primeiro dia de férias?
Sabe a salgado e cheira a regresso a casa, a longos acampamentos e caminhadas, a noites à volta da fogueira com amigos acabados de conhecer e outros que já me acompanham desde a infância.
Lembra os tempos dos passeios no jipe do tio Lourenço com todos a quererem falar ao mesmo tempo enquanto eu e a Margarida entoávamos repetidamente as mesmas canções do Festival infantil, deitadas no porta-bagagem. Lembra os meus primos e os dias intermináveis de brincadeiras na casa da avó!
É sempre um bom dia o primeiro dia das férias, cheios de planos e desejos...
De que cor serão as minhas férias? Como será a voz daqueles que vou conhecer?
Existem poucos momentos destes na vida em que o que aí vem é parecido ao infinito, em que há mais pontos de interrogação do que pontos finais, e por isso prolongo-o até a hora de deitar, escrevendo listas intermináveis de objectivos que quero tentar cumprir.
abraço,
Beatriz Camacho
23/06/13
De volta à escola primária
Há uns dia atrás fui à festa de final de ano da minha prima Francisca.
Como qualquer criança que se sente anfitriã da festa, Francisca estava tão contente que não conseguia fazer muito mais do que andar aos saltinhos e às gargalhadas, mostrando orgulho em ser finalista do 4º ano e de receber na sua escola toda a sua família.
O pátio, o corredor, as salas de aula, os desenhos que anunciam o Verão pregados nos placards e ,principalmente, o som, levou-me até à minha escola primária naquele jamais esquecido último dia naquela escola.
Nunca me vou esquecer como naquele dia do mês de Junho todas nós trazíamos o uniforme impecavelmente vestido e como nos apresentamos tão aprumadinhas e "arrumadinhas".
Nunca me vou esquecer da imagem de todas nós sentadas, pela última vez, nos nossos lugares daquela sala que foi nossa durante 4 anos da nossa vida, a ouvir com toda a atenção a última "lição" da professora que nos desejava "sorte e saúde" a todas.
Eu, sentada na 3º fila, apoiei a cabeça nas mãos e deixei as lágrimas caírem, sentido, pela primeira vez, a dor de quem não achava que estava preparada para deixar o conforto e carinho que só encontramos na escola primária,deixar a sala acolhedora, a irmã que olhava por mim enquanto a minha mãe não chegava e a escolinha pequenina onde conhecemos toda a gente, por uma maior e desconhecida.
Fui para o palco e cantei como ninguém a canção a despedida, agradecendo a professores, funcionários e pais. Na plateia, estava o público que nunca me faltou: a minha mãe, a minha avó e a minha prima Cristininha.
Guardei com toda a tristeza o material que me pertencia numa caixa e saí pela última vez daquela escola em lágrimas, levada ao colo pela minha prima Cristininha até casa.
Hoje, sou eu quem levo a Francisca pela mão.
Ela atravessa a porta da rua cheia de felicidade por ir para uma escola maior e despede-se dos amiguinhos e funcionários com alegria, desejando "boas férias" a todos, e eu saio com uma lágrima no canto do olho pelas recordações que só se tem quando se regressa a uma escola primária.
Como qualquer criança que se sente anfitriã da festa, Francisca estava tão contente que não conseguia fazer muito mais do que andar aos saltinhos e às gargalhadas, mostrando orgulho em ser finalista do 4º ano e de receber na sua escola toda a sua família.
O pátio, o corredor, as salas de aula, os desenhos que anunciam o Verão pregados nos placards e ,principalmente, o som, levou-me até à minha escola primária naquele jamais esquecido último dia naquela escola.
Nunca me vou esquecer como naquele dia do mês de Junho todas nós trazíamos o uniforme impecavelmente vestido e como nos apresentamos tão aprumadinhas e "arrumadinhas".
Nunca me vou esquecer da imagem de todas nós sentadas, pela última vez, nos nossos lugares daquela sala que foi nossa durante 4 anos da nossa vida, a ouvir com toda a atenção a última "lição" da professora que nos desejava "sorte e saúde" a todas.
Eu, sentada na 3º fila, apoiei a cabeça nas mãos e deixei as lágrimas caírem, sentido, pela primeira vez, a dor de quem não achava que estava preparada para deixar o conforto e carinho que só encontramos na escola primária,deixar a sala acolhedora, a irmã que olhava por mim enquanto a minha mãe não chegava e a escolinha pequenina onde conhecemos toda a gente, por uma maior e desconhecida.
Fui para o palco e cantei como ninguém a canção a despedida, agradecendo a professores, funcionários e pais. Na plateia, estava o público que nunca me faltou: a minha mãe, a minha avó e a minha prima Cristininha.
Guardei com toda a tristeza o material que me pertencia numa caixa e saí pela última vez daquela escola em lágrimas, levada ao colo pela minha prima Cristininha até casa.
Hoje, sou eu quem levo a Francisca pela mão.
Ela atravessa a porta da rua cheia de felicidade por ir para uma escola maior e despede-se dos amiguinhos e funcionários com alegria, desejando "boas férias" a todos, e eu saio com uma lágrima no canto do olho pelas recordações que só se tem quando se regressa a uma escola primária.
15/06/13
Junho
Desço pela Graça até Alfama de vestidinho de balão. Sou uma menina de rua, da vida que está cá fora e vou dançando pelas ruas ao som das marchas e do fado!
As portas abrem-se e mostram cozinhas, salas e quartos cheios de humildade e sem vergonhas. Casas com alma, casas com gente dentro!
A rua é minha! a rua é do povo, e o povo sai à rua e faz da rua uma festa!
Lisboa veste-se de Junho,veste-se de cor e enche-se de cheiro, cobre-se de flores para ver passar a procissão. Ajoelham-se e choram os mais devotos ao verem o Santo casamenteiro ao longe, pedindo que lhes dê saúde, e os mais novos, descalços, vão pedindo moedinhas para o Santo.
Foi numa destas ruas que me rendi a esta cidade, quando a vi entrar em Junho cheia de alegria e esperança.
Uma cidade que se enche de risos e conversas à janela, que se transforma neste mês! E eu gosto tanto dela assim!
(vagueando pelas ruas de Alfama no dia 13 de Junho. Após a "confusão" da noite anterior, no dia seguinte, há tradições que ainda se mantêm.
Fotos por:André Roma).
abraço,
Beatriz*
As portas abrem-se e mostram cozinhas, salas e quartos cheios de humildade e sem vergonhas. Casas com alma, casas com gente dentro!
A rua é minha! a rua é do povo, e o povo sai à rua e faz da rua uma festa!
Lisboa veste-se de Junho,veste-se de cor e enche-se de cheiro, cobre-se de flores para ver passar a procissão. Ajoelham-se e choram os mais devotos ao verem o Santo casamenteiro ao longe, pedindo que lhes dê saúde, e os mais novos, descalços, vão pedindo moedinhas para o Santo.
Foi numa destas ruas que me rendi a esta cidade, quando a vi entrar em Junho cheia de alegria e esperança.
Uma cidade que se enche de risos e conversas à janela, que se transforma neste mês! E eu gosto tanto dela assim!
(vagueando pelas ruas de Alfama no dia 13 de Junho. Após a "confusão" da noite anterior, no dia seguinte, há tradições que ainda se mantêm.
Fotos por:André Roma).
abraço,
Beatriz*
01/06/13
28/05/13
Maio
Estamos em Maio e os meus pés sentem pela primeira vez a textura da relva,o meu corpo sente-se mais leve sem as camadas de roupa que me aconchegaram durante o Inverno e solta-se em leves t´shirts.
Adopto o chão como mesa de estudo e o Whity continua a fazer-me companhia.Estação após estação, durante o dia, somos só nós dois.
Abri a porta a novos sorrisos e abraços e com eles descobri um mundo inteiro dentro do meu bairro.
Voltei a um abraço que nunca partiu e reencontrei a felicidade que há em meia dúzia de acordes partilhados, em mensagens cantadas de paz e amor que me aquecem a noite e o coração*
Maio do para sempre estudante nas serenatas a Lisboa e o regresso às filmagens que lembra a faculdade, mês dos sonhos de Verão a viajar pelo Mundo e a escrever-vos histórias.
Às vezes sinto que a felicidade é demasiado grande para conseguir segurá-la, tão grande em coisas pequeninas que vão passando por mim e eu nem acredito na sorte que tenho*
abraço*
Beatriz
Adopto o chão como mesa de estudo e o Whity continua a fazer-me companhia.Estação após estação, durante o dia, somos só nós dois.
Abri a porta a novos sorrisos e abraços e com eles descobri um mundo inteiro dentro do meu bairro.
Voltei a um abraço que nunca partiu e reencontrei a felicidade que há em meia dúzia de acordes partilhados, em mensagens cantadas de paz e amor que me aquecem a noite e o coração*
Maio do para sempre estudante nas serenatas a Lisboa e o regresso às filmagens que lembra a faculdade, mês dos sonhos de Verão a viajar pelo Mundo e a escrever-vos histórias.
Às vezes sinto que a felicidade é demasiado grande para conseguir segurá-la, tão grande em coisas pequeninas que vão passando por mim e eu nem acredito na sorte que tenho*
abraço*
Beatriz
25/05/13
Pequenas bailarinas num grande palco
A sensação de subir a um grande palco (co)movida pela melodia de Tchaikovsky.
Voar e atrevessar o palco num minuto,
Abrir o coração ao público e mostrar a paixão que existe ao dançar.
Pisar o mundo com as pontas dos pés e fazê-lo girar numa eterna pirouette :)
boa noite*
bastidores do CCB 25-04-2013
por:Beatriz Camacho
23/05/13
Cantinhos especiais na cidade emprestada!
Felicidade é receber uma prenda da mãe- natureza !
Aquele tipo de felicidade que, se estivermos atentos, encontramos nas ruas que passamos a caminho de casa.
Fotos por:Nuno Neto
15/05/13
gira que gira !
apeteceu- me escrever assim:
percorro o mundo em minutos
sou levada pela mão,
sorrio,mas não conheço
abrem-me o caminho ao corpo que se mexe
deixo-me ir sem saber e sem saber estou a dançar
vou girando sem cair
e tudo gira comigo
nada fica no lugar
eu rodo
roda o mundo
rodamos os dois sem cairmos no chão
dei-te a mão e
não a lago
não paro
não canso
não descanso
vou correr o mundo numa dança!!!!!!
que gira e que vira
que faz sorrir
vou segura e não sozinha.. há quem vá comigo!
nesta roda incessante
que me faz rodar, girar e voar..
nesta roda que é a vida e não pára
que corro para apanhar
mas desta vez,
foi eu que fui à frente.
foto gentilmente cedida por: André Roma
baile danças Celtas na Paiva Couceiro
09/05/13
08/05/13
Hoje senti revolta e escrevi-a assim:
Cortam-nos as pernas, roubam-nos as asas... e nós que lhes demos raízes para ficar, somos obrigados a voar para longe em busca da nossa própria liberdade, para um sítio-casa onde a nossa imaginação e criatividade não sejam apenas mais uma sombra ofuscada por aqueles que querem chegar à luz!
Bom dia*
Cortam-nos as pernas, roubam-nos as asas... e nós que lhes demos raízes para ficar, somos obrigados a voar para longe em busca da nossa própria liberdade, para um sítio-casa onde a nossa imaginação e criatividade não sejam apenas mais uma sombra ofuscada por aqueles que querem chegar à luz!
Bom dia*
26/04/13
02/04/13
Encontrei este poema perdido num dos caixotes do meu sotão:
"os adultos não se lembram como era
ser criança.
Mesmo quando o afirmam.
Já não sabem.Acedita-me.
Esqueceram tudo.
Como o mundo então lhes parecia maior.
Que podia ser custoso subir para uma cadeira.
Como era, olhar sempre para cima?
esqueceram-se.
Já não sabem.
Tu também vais esquecer.
Muitas vezes os adultos falam de como era bom
ser criança.
Até sonham mesmo, voltar a sê-lo.
Mas com o que sonhavam, quando eram crianças?
Tu sabes?
Eu acho, que sonhavam ser finalmente adultos."
(autor desconhecido)
Boa tarde*
"os adultos não se lembram como era
ser criança.
Mesmo quando o afirmam.
Já não sabem.Acedita-me.
Esqueceram tudo.
Como o mundo então lhes parecia maior.
Que podia ser custoso subir para uma cadeira.
Como era, olhar sempre para cima?
esqueceram-se.
Já não sabem.
Tu também vais esquecer.
Muitas vezes os adultos falam de como era bom
ser criança.
Até sonham mesmo, voltar a sê-lo.
Mas com o que sonhavam, quando eram crianças?
Tu sabes?
Eu acho, que sonhavam ser finalmente adultos."
(autor desconhecido)
Boa tarde*
31/03/13
Mensagens para o mundo!
O que gostavas de dizer ao mundo? (pergunta feita a um grupo de crianças entre os 6 e 10 anos)
É esta consciência que me faz acreditar que um mundo melhor é ainda possível.
Boa Páscoa*
25/03/13
Permanecer...
Já passou algum tempo... foi numa noite de Março. Mais uma daquelas noites em que cheguei atrasada e, silenciosamente, "roubei" um bolo da caixa que estava em cima da cadeira. Sentei-me lá atrás para ninguém dar por mim e disparei meia dúzia de fotos, sobe o olhar reprovador de algumas pessoas, porque para mim "recordar é viver". E depois, lá fui de colete reflector e cheia de energia ver como é que estava tudo pela igreja de Arroios.
A fila para a distribuição de comida é cada vez maior, a espera desespera, mas como dizem "quem espera sempre alcança"...(confesso que a fila ainda me faz confusão).
A fila para a distribuição de comida é cada vez maior, a espera desespera, mas como dizem "quem espera sempre alcança"...(confesso que a fila ainda me faz confusão).
Penso em Eugénio de Andrade e na urgência de destruir certas palavras "ódio, solidão, crueldade" e senti que pelo menos naquela noite a palavra solidão podia ser riscada da lista.
Saída com o projecto Um sem abrigo um amigo-Associação Conversa Amiga
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