17/08/16

As coisas com a Beatriz por vezes andam devagarinho (como a Alice da música dos punk d amour). Sempre adorei a viagem antes de chegar ao destino ( lembro me de em pequenina fingir que estava a dormir no carro numa tentativa de prolongá-la), sempre me envolvi muito com o processo antes de chegar ao objetivo, sempre incentivei as minhas crianças a apaixonarem- se pelo caminho. Esta paixão pelo caminho levou-me a percorrer os caminhos de Santiago. Com a minha tese tem sido assim. Já andamos brigadas, já fizemos as pazes, já tivemos sem nos ver muito tempo, agora vemo-nos todos os dias. Não vamos ao ritmo que queria, às vezes adormeço depois de escrever um parágrafo, outras vezes escrevo três páginas num abrir e fechar de olhos. Mas estamos a fazer o nosso caminho e estamos a divertir-nos. Há tempo, silêncio e introspeção a cada passo.
Não sei como será o resultado final, mas só pelo processo já valeu a pena porque é o caminho que nos transforma. E como aprendi no ano passado: "O caminho é a meta".


16/08/16

Sobre Juventude


Encontrei no sótão um livro em branco que o meu pai começou a escrever nos princípios dos anos 80. Infelizmente deixou-me apenas escritas quatro páginas onde escreveu as suas reflexões sobre a juventude da sua atura. Hoje partilho a primeira parte deste livro, até porque acredito que algumas questões continuam atuais.

Nós os Jovens e a animação eles (os adultos) e a tradição!

Nesta época em que estamos vivendo desassossegada de feitio, nervoso de temperamento e improvisadora de carácter, necessita de ser mais animada não por nós (pois com todos os males que nos afligem e dos males que nos apontam, ainda temos bem vivo na alma o espirito animador) ma sim pelos adultos, pois é neles que ponho o dedo na consciência. Partilho da mesma opinião quanto aos jovens queimarem inutilmente o seu tempo livre na droga, no álcool, na marginalidade, como os que passam horas na zona do Apolo. Mas discordo quando afirmam que o Jovem de hoje está a morrer no espírito, na inteligência e na imaginação, e até na fé (…).

No meu fraco e modesto entender, não posso nem devo dizer que existe a “crise da juventude” pois parece mais exato falar da “juventude da crise”, quer dizer de uma juventude, de uma geração que sofre em si os efeitos próprios de uma crise mais extensa e mais extensa e mais profunda, porque geral-crise que o homem de hoje sofre ao sentir em si a gestação dum mundo novo. e então, porque falar da crise da juventude? Crise da juventude ou crise dos adultos?

É preciso sim abrir mentalidade dos adultos, animá-la, acarinhá-la e quebrar-lhes as correntes conservadoras e tradicionalistas de leis e projetos e embalá-los suavemente ao ritmo da nossa animação.

Joel Camacho