15/08/15

Pelas danças do Andanças

"Aceita o convite para dançar, escuta a história do andanças sussurada entre passos, rodopia em sorrisos marcados e entra na magia de um ritmo partilhado. Na mudança de direção guia e deixa-te guiar, canta a beleza do lugar e partilha as músicas no sonho da próxima dança"

Dancei de manhã à noite. Sozinha, a pares, com montes de pessoas. Devagar e rápido. Mais contida e completamente descontraída.
 Rodei o mundo todo numa dança. Troquei de pares. Cada par um sorriso.
 Respirei os compassos e fintei os tempos da música. Em bicos de pés, descalça, aos saltos.

Porque a dança permite a partilha, permite respeitar o outro, guiar ou deixar ser guiada. Deixei-me ser levada, embalada pela música. E depois de tanto rodopiar, afasto-me e contemplo a dança. Não há nada mais bonito que ver dançar, porque só a paragem permite o amor. O amor de quem leva a vida a dançar, de dois corpos que seguem o mesmo ritmo na dança que é a vida.



















Mais um regresso

Já muito escrevi sobre os meus regressos a casa. Mas ainda que assim seja, sinto que fica sempre algo por dizer, mais uma palavra para acrescentar.
Cada regresso é diferente, ainda que igual no seu ritual. Sei lá eu todos os motivos que me fizeram correr para casa: para esquecer um coração, para encontrar conforto num abraço, para chegar ao fundo antes de começar a subir, para parar o tempo, para repensar os próximo passos.
A verdade é que, cada vez mais, o regresso tem para mim um efeito estranho, uma espécie de anestesia.
 A casa apresenta-se como um museu da minha infância, as fotografias nas molduras espalhadas por toda a parte, mostram uma menina pequena de caracóis que já não (re)conheço. O quarto e as histórias da Anita que continuam pela mesma ordem desde a última vez que lhes toquei, têm o mesmo cheiro, apesar das sucessivas alterações da mãe de forma a torná-lo mais moderno, fingindo assim que o tempo por ele passou.
Os sons, o barulho, todos a quererem falar uns por cima dos outros, a repetirem vezes sem conta a mesma coisa - cenas típicas da minha família que se vão desenrolando diante de mim como um filme em que eu sou mera espectadora.
Voltar a casa é esbarrar de frente com o quanto crescemos, com tudo aquilo que não somos. É como se tentássemos vestir a todo o custo as roupas que já não nos servem.É visitar os sítios e lugares onde a nossa infância ficou.
Voltar a casa é ter tempo para inquietações metafísicas e perceber em que parte do caminho ficaram os sonhos.
Voltar a casa é como regressar à Terra do Nunca num corpo e alma de adulta que não quer crescer.






12/08/15

Que jovens (espertos) somos!

" Que esperta que sou: com a minha contestação, dou o exemplo e demonstro como a sociedade portuguesa não está morta. Sei que a proliferação dos diplomas universitários fez com que muitos se tivessem desvalorizado, por isso estive na primeira linha da minha faculdade a exigir mais e melhor.
Que esperta que sou: claro que vivo dependente dos meus pais e tenho a sorte de eles me ajudarem quando podem. Queriam que eu vivesse do call center ou do biscate do supermercado? Mas não sou parva, por isso adio ir viver com o meu namorado: só planeio com ele um fim de semana sem grandes gastos, em casa de amigos e sem os olhares dos eternos padrinhos da "geração rasca", designação que afinal tanto nos uniu.
Que esperta que sou: sei que não há liberdade num trabalho tão precário e tenho a convicção de que o estudo, só por si, nunca me trará independência. Mas sou esperta porque sou autónoma: conto aos meus pais o que acho importante partilhar, não aceito à partida todos os temas que os professores me trazem (...)
Que esperta que sou: claro que fiz Erasmus. Conheci outros temas e outras gentes sobretudo outras maneiras de pensar. Estive num país onde os políticos não se insultavam e o debate democrático se generalizava na família e na escola. Não fiquei pela 4ª classe, como os meus avós, nem pelo 9º ano, como os meus pais. E sei que o Bruno, que fazia tanta porcaria na escola onde andámos e, talvez por isso, deixou de estudar no 8º ano, jamais terá as mesmas hipóteses do que eu: no momento em que a crise abrandar, os meus desafios serão bem mais interessantes do que os dele.
Que esperta que sou, por isso não me resigno: como posso aceitar uma sociedade que critica os mais novos, como se fôssemos sempre os ignorantes de serviço? Que compara a nossa ida para o estrangeiro com a emigração dos anos sessenta, era em que milhares de portugueses não qualificados fugiam de Portugal (e de Salazar) para maus empregos em França? (...).
Que esperta que eu sou : por isso vou lutar pela valorização do mérito e do esforço e pelo fim das influências e das pressões. Sei bem que a voz dos mais novos, depois da escuta activa  dos mais experientes, é essencial para tudo melhorar. Não esqueço que há muito a mudar também em nós, mas nunca nos gabámos da perfeição: sei que precisamos de estar mais atentos ao outro ao nosso lado, pensar menos no prazer imediato e tentar ver um pouco mais a prazo. Ler e estudar mais, como nos dizem os mais velhos que vale a pena ouvir. No meu trabalho actual, mal remunerado e precário como o dos meus amigos, vou fazer ouvir a minha voz, única forma de me sentir melhor comigo mesma e de aumentar a possibilidade de repararem em mim (...).
Que esperta que eu sou, por isso vou melhorar sem me calar: irei denunciar sempre a arrogância de quem critica os jovens sem ter ganho um minuto a falar com eles".

Daniel Sampaio, Da Família, Da Escola, E Umas Quantas Coisas Mais

A todos os jovens que ainda produzem ideias, constroem sonhos e  com esses sonhos transformam a sociedade,
A todos os que criam os seus projectos porque não têm medo de pensar e questionar e não estão totalmente formatados pela sociedade onde vivem,
A todos os que saem do lugar comum,

Obrigada!