Cada regresso é diferente, ainda que igual no seu ritual. Sei lá eu todos os motivos que me fizeram correr para casa: para esquecer um coração, para encontrar conforto num abraço, para chegar ao fundo antes de começar a subir, para parar o tempo, para repensar os próximo passos.
A verdade é que, cada vez mais, o regresso tem para mim um efeito estranho, uma espécie de anestesia.
A casa apresenta-se como um museu da minha infância, as fotografias nas molduras espalhadas por toda a parte, mostram uma menina pequena de caracóis que já não (re)conheço. O quarto e as histórias da Anita que continuam pela mesma ordem desde a última vez que lhes toquei, têm o mesmo cheiro, apesar das sucessivas alterações da mãe de forma a torná-lo mais moderno, fingindo assim que o tempo por ele passou.
Os sons, o barulho, todos a quererem falar uns por cima dos outros, a repetirem vezes sem conta a mesma coisa - cenas típicas da minha família que se vão desenrolando diante de mim como um filme em que eu sou mera espectadora.
Voltar a casa é esbarrar de frente com o quanto crescemos, com tudo aquilo que não somos. É como se tentássemos vestir a todo o custo as roupas que já não nos servem.É visitar os sítios e lugares onde a nossa infância ficou.
Voltar a casa é ter tempo para inquietações metafísicas e perceber em que parte do caminho ficaram os sonhos.
Voltar a casa é como regressar à Terra do Nunca num corpo e alma de adulta que não quer crescer.
Sem comentários:
Enviar um comentário