20/10/15

Carta a Luaty

Luaty,
desde o primeiro momento que soube da tua situação, estou solidária contigo e com os teus colegas. Neste momento, estás a despertar o mundo para uma situação que todos sabiam, mas ninguém"sentia",como aquela foto do menino morto nos braços do pai despertou consciências.Infelizmente são precisas atitudes trágicas para nos tirar do conforto do dia-a-dia.
Senti logo uma revolta enorme e uma vontade de agir. Mas como? O que fazer?
Tenho faltado às aulas para participar nas vigílias que têm organizado.
Na primeira, senti-me estranha, não sabia bem porque estava ali, qual era o resultado que esperávamos... Havia poucas pessoas, o ambiente estava pesado. Fui sozinha porque não consegui mobilizar ninguém e lá não encontrei nenhuma cara conhecida.
Limitei-me a permanecer em silêncio,desejando que a minha presença ali pudesse fazer alguma diferença enquanto a noite fria me gelava o rosto e o coração.
Convocaram mais uma vigília,e mais uma vez estive presente. Saí a correr do trabalho e, qual não foi o meu espanto, quando encontrei meia praça cheia de vozes que apelavam à liberdade e aí o meu coração encheu-se de esperança. Fiquei até ao fim e acendi duas velas nas quais depositei toda a minha esperança.
Dois dias depois passei no Rossio e as velas ainda ardiam,os cartazes continuavam lá e, enquanto assim o é,a tua história não é esquecida. Sentei-me,sentindo a necessidade de olhar por vocês. Enquanto ali estive,foram tantas as pessoas que me vieram perguntar o que se passava, eu expliquei pacientemente a cada uma delas, despertando mais e mais consciências, senti, por momentos, que desta vez, estava mesmo a fazer a diferença. Decidi ficar por ali, olhava para as fotos e para as velas e não sabia bem a quem pedir, a quem orar, nesta minha vigília solitária,mas falei com o coração e pedia em silêncio para que vos libertassem rapidamente e para que recuperasses as forças.
Estou contigo nesta luta, e por isso escrevo-te para te dizer que somos cada vez mais, que tu e os teus colegas não estão sós. Que Portugal está desperto para o que se passa em Angola,digo eu,hoje,mais do que nunca.
Escrevo-te também para te agradecer por me inspirares e por mudares o pedacinho de mundo que está a tua volta.

Melhora rápido,
Beatriz Camacho



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