E chega o momento. Os holofotes acendem-se e tudo aponta para mim ainda que só haja uma sala vazia e um espelho.A mente e o corpo fundem-se e fluem num só.
Respiro fundo. A música começa levando-me de volta aos contos de fadas que julgava já não existir.
O coração bate mais depressa.
Deixo de pensar.Agora é sentimento,emoção.
Entro em cena.
A felicidade já não cabe em mim e começa a querer sair para fora do meu corpo.Começo a transbordar.Elevo-me nas pontas dos pés e cresço. Abro o coração ao público e deixo sair a paixão que está cá dentro e que quer sair, materializo-a em movimentos que fazem mecher o meu corpo sem controlo.
Olho para o céu. Sinto que sou capaz de voar e salto elegantemente pela sala. O espelho reflecte um novo eu que se transforma,renovado. Ergo a cabeça levantando o pescoço.Sem medo de nada.
O mundo parou e eu continuo a dançar. Os braços saem do meu corpo como se fossem autónomos e a mim não pertencessem mais.Giro sobre um só pé numa piruette que não tem fim. O mundo gira comigo e sai do lugar.
Desejo ficar assim infinitamente. Aceno ao público que me veio ver.
Olho para a camara. Sou a actriz do filme que eu criei.Sorrio sentido-me feliz com a minha personagem. É o meu "Amelie Moment".
Sinto-me a deslizar pelo chão e a adrenalina toma conta do meu corpo à medida que a música avança.
E salto.
Rodopio.
Deslizo.
Chego ao fim. A exaustão. Mantenho-me firme e fiel ao meu público.Agradeço.
E só depois...
Caio no chão e tudo desaparece, deixei tudo ali. Estou nua,exposta e frágil no meio do estúdio de dança.
Volto a acordar e a vestir-me com um novo amanhecer,voltando ao real para mais um dia na cidade.
É a beleza e a crueldade de se ser artista. Dá-se tudo. Fica-se sem nada. Mas, há sempre um amanhã, para recomeçar tudo, outra vez.
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