Devido aos meus pais, que sempre estiveram envolvidos nos eventos turísticos da ilha da Madeira, desde os meus 7 meses que integrei as andanças da Festa da Flor.
Cresci, desde que era um bebé de alcofa até aos meus 20 anos,sem falhar nenhum ano,por entre cortes de tecido, cheiro a cola de sapateiro, trabalhos de casa a meio das batidas dos ensaios e purpurinas, passinhos para a direita e para a esquerda e rodas até mais não e o mandar beijinhos e acenar aos turistas em cima de um carro alegórico (isso era canja paramim).
Chegava-se ao mês de Abril e os meus temposlivres eram ocupados com o ir escolher tecidos, levá-los às costureiras, noitadas a fazer coroas de flores naturais e carros alegóricos, que na altura, nem sempre me agradavam.
No meio disto tudo, acabei por fazer grandes amizades com outras crianças que, tal como eu, tinham os pais envolvidos nesta trupe.Foram os amigos das noites desesperadas onde o sono falava mais alto e o único sítio para dormir era o banco do carro no meio de um armazém.
Abril significava uma casa da avó cheia de vestidos para engomar e o frigorífico cheio de coroas de flores e o jipe do tio Lourenço que nos levava a todas para o cortejo.
Fui crescendo, neste ambiente de companheirismo de trabalho de equipa para uma causa comum e até há bem pouco tempo, o mês de Março e Abril foi marcado por todos os preparativos necessários para que naquele dia nada falhasse, desta vez, já com o bichinho que me foi deixado,fiquei eu responsável pela parte criativa de montar uma coreografia e ensiná-la a quase uma centena de crianças.
Eu cresci assim,e por isso desde há dois anos que falta alguma coisa no meu mês de Abril,fica a nostalgia das vozes e alegria das crianças nos ensaios,dos beijinhos e abraços quando o cortejo chega ao fim, a cor dos vestidos rodados e as flores naturais, o nosso "Olá à Primavera".
Mas apesar de tudo fica a vontade, talvez movida por algo que me tenha sido deixado, de continuar mais tarde o que alguém iniciou.
Obrigada aos meus papás por me terem metido nisto :)!
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