Há 6 anos que o meu natal começa com um fazer de mala, sem tempo. Com roupas mal dobradas e engelhadas jogadas e forçadas a caber numa mala que não quer fechar.
Começa ainda em Lisboa. Muito antes de ser natal para a maioria das pessoas,já o é para mim, é ver-me a correr de folhinha na mão, às 10h da manhã, pela Feira do Relógio, a atender a todos os pedidos da minha mãe: 1kg de amêndoa, meio de nós mais não sei quantos de frutos secos e as miniaturas da bolinha feitas a pedido.
Depois o aeroporto, uma mala extremamente pesada e eu a temer (e tremer) pelo excesso de peso. Lá dentro, uma confusão de filas que lembra o natal, os voos atrasados e os reencontro de amigos que também voltam à ilha.
O avião cheio de gente com sacos (ou sacos com gente) ,que, como eu, regressam a casa para passar o natal com os seus, a maioria estudantes que vão lendo os calhamaços, lembrando os exames em Janeiro.
E é quando me afundo na cadeira e aperto o cinto que, ignorando os de segurança que já sei de cor, começo a sentir o conforto de voltar a casa.
Aconchega-me o pensamento de ter mãe à minha espera, daquela que, muito antes de eu chegar começou a preparar o meu regresso, com o carinho de quem sabe que não olho com bom grado para o facto de o meu quarto se ter transformado numa espécie de quarto de arrumações, e ajeita-o a cada chegada minha; com a preocupação de quem enche o frigorífico com tudo aquilo que mais gosto.
Imagino as decorações de Natal; uma árvore no sótão, outra na sala, um arranjo debaixo da escada e as noitadas da mãe para ter tudo pronto a tempo e horas; a cozinha numa bagunça devido às broas, bolos e a sobremesa nova que não poderia faltar!
Saber que é sempre assim, ano após ano, reconforta-me o coração e faz-me ansiar por estes dias. Saber que exactamente tudo estará no mesmo lugar e que há coisas que permaneceram intocáveis desde o dia em que saí, tornando-se numa espécie de casa- museu da minha infância.
Os pensamentos levam-me ao sonho e, ainda antes do avião levantar, já eu adormeci, numa descontracção natural de quem apanha um avião como se fosse um autocarro.
Acordo minutos antes de aterrar, temendo a aterragem, mas ainda a tempo de olhar a minha ilha lá de cima e sorrir de felicidade por estar de volta.
Começo a imaginar quem estará à minha espera e antecipo o abraço apertado do reencontro, e depois todas as outras certezas, o sol, o quentinho, a sopa à minha espera, o quarto de princesa que permaneceu intocável todos estes anos, como se o tempo não tivesse passado por ali. O cheiro dos bolos, o acampamento de natal, o "estás mais magrinha", a visita à minha escola primária e secundária, os recantos, os corredores e as primeiras paixões.
Estar em casa é ter um conjunto de certezas que nos traz conforto, é ter a serenidade e voltar aos dias que passam devagar.
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