O Sotão do Chapitô
O edifício do Chapitô não passa despercebido a quem passa na rua da Costa do Castelo. Este edifício que "acolhe" uma escola de artes bem conhecida pelos Lisboetas,apresenta-se como um espaço privilegiado para contemplar a cidade, ao fim da tarde, no bar e restaurante em que esta escola se “transforma”.Embora esta escola seja famosa, não só em Portugal, como em todo o mundo, o que muita gente não sabe é que o Chapitô vai muito para além de uma “simples” escola de artes. E que, no cimo do edifício, na Casa do Castelo, vivem Renato, Paulo e Daniel todos eles alunos desta escola.
Paulo relembra o dia em que soube que entrou no Chapitô. Nesse dia,
de tão impaciente que estava chegou à escola às oito da manhã. Depois de
esperar que a escola abrisse, uma hora depois, viu o seu nome em último
lugar da lista dos admitidos. Não coube em si de contentamento, visto
que, ter ido parar àquela escola foi uma questão de sorte, porque não
estava preparado fisicamente para as provas de admissão.
Um mundo inteiro de oportunidades logo lhe surgiu à frente com a entrada nesta escola.A partir de então, novos sonhos e objectivos foram surgindo. Para trás ficou o curso de cozinha e de turismo, pela
frente um sonho:“Viajar pelo mundo inteiro com uma família de circo”.
Daniel,o mais novo dos três, já teve a oportunidade de
viver essa experiência.Com apenas 15 anos, decidiu “fugir” durante o
Verão com a companhia de circo que estava na sua terra (Saborosa). Ao
princípio, os pais não acharam muita piada à ideia devido ao facto de
ser tão novo, mas, agora, já estão habituados e apoiam-lhe em tudo.
Já com Renato foi diferente. Desde os seus 16 anos que sonhava com um
lugar nesta escola de artes e a sua vontade e persistência foi tanta
que se alistou na marinha a fim de ganhar dinheiro para pagar parte do
curso. As suas boas notas, e a bolsa de mérito que recebeu pagaram o
resto.

Para Daniel Lisboa era uma cidade distante por ele (pouco)
conhecida nas poucas visitas de estudo que veio fazer. Veio para Lisboa
atrás do sonho de conseguir um lugar ao sol na sua praia: a das artes
circenses.
Entrar para o Chapitô não foi difícil devido ao facto de já fazer
feiras medievais há algum tempo. Mais difícil foi gerir a liberdade. “Dicidi dar uma festa de Halloween lá em minha casa, depois fomos expulsos, e não tinha dinheiro nem sítio para ficar”.
Foi nessa altura que o Chapitô lhe abriu as portas da casa do Castelo e
lhe deu trabalho no Restô (restaurante do Chapitô). Ao inicio, Daniel
não gostou muito da ideia e sentia-se descriminado porque ”Os alunos do Chapitô vêm a casa muito diferente do que ela é por ser da acção social, colocam logo o rótulo de prisão”, afirma Daniel que agora não se imagina a viver noutro lugar.
Renato olha para os seus colegas e diz: “eles não são meus colegas, são meus irmãos”. Este artista conta já com três anos na casa do castelo e relembra a maneira como foi acolhido “Saí
de um bairro social e as pessoas do Chapitô, que nem me conheciam,
deram-me um voto de confiança que nem a minha família me deu”. Depois de estar na casa foi ganhando a confiança e o carinho das pessoas que lá trabalhavam e conseguiu arranjar trabalho.

Paulo desmistifica logo esse preconceito existente entre os outros alunos:”Viver nesta casa é óptimo”
. Este jovem está consciente de que o projecto de acção social lhe
trouxe oportunidades que certamente nunca mais terá na vida. Viver
naquela casa não só lhe facilitou a vida a nível financeiro, como
contribuiu para o seu desenvolvimento pessoal porque começou a ganhar
independência, de uma forma gradual, contando sempre com a ajuda de
técnicos prontos para o apoiar. Paulo não pensa em viver noutro lugar e
sabe que ali está bem melhor do que em Sintra onde vivia, “Aqui cada um de nós tem 30 euros por semana para comprar comida” .

As ligações entre eles e o ambiente na casa é incrível os três
justificam-se dizendo que os artistas são mais receptivos e abertos, e
isso é que faz do Chapitô uma escola diferente das outras é poderem
estar na esplanada a falar com um professor que é como se fosse um
irmão. São sem dúvida laços fortes que os unem, tão fortes queDaniel chega mesmo a afirmar:”Eu não gosto de Lisboa, prefiro a minha terrinha, mas agora já me custa deixar isto, devido às ligações que aqui fiz”.
Todas as noites reúnem-se à volta da mesa para partilhar a refeição,
com sorte feita por Paulo (eleito o melhor cozinheiro). Antes de
começarem a comer, não se esquecem de agradecer àquela que lhes abriu um
futuro bem melhor do que aquele que imaginavam.Com vozes firmes ouvimos soar por toda a casa: “obrigada Teté.”
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